Baralho surgiu com formas diferentes, em diferentes épocas e culturas. E acabou chegando à Europa também por mãos diferentes. Teria sido inventado na China, para agradar uma das namoradas do imperador Sehun-Ho, segundo velhos relatos chineses. Mas não há unanimidade sobre isto. O inglês T. F. Carter, no livro The Invention of Printing in China (A Invenção da Impresa na China), publicado em 1925, faz referências aos jogos de cartas como sendo praticados já no ano de 969 para prever o futuro.
Se, por um lado, não há consenso a respeito destas datas, por um outro lado não há muita dúvida sobre o passado religioso ou advinhatório das cartas. O antigo baralho indiano, por exemplo, tinha dez naipes, cada um representando uma das dez encarnações da entidade Vishnu. Essa ligação com o sobrenatural também fica clara quando surgem alguns dados históricos. Catherine P. Hargrave, que em 1930 publicou sua História do Jogo de Cartas, diz que no século XIV, os soldados sarracenos introduziram no sul da Itália um jogo de baralho chamado "naib"- que em herbeu quer dizer "feitiçaria"- e que pode também ter sido a origem da palavra "naipe" em português e espanhol.
Religioso ou não, quando o baralho chegou à Europa entre os séculos XIII e XV, o prazer de jogar já existia. As apostas em jogos de dados (feitos em pedra ou osso), eram conhecidas em diversos países. O baralho vinha somar-se aos jogos anteriores, conquistando adeptos, certamente pelo fascínio que possui até hoje, somado ao quase infinito número de combinações matemáticas possíveis encontradas num prático maço de cartas, em tamanho de bolso.
Do Oriente, fosse da China ou da Índia, chegaram na Europa os baralhos numerados e divididos em naipes. Sabe-se que eram 56 cartas com quatro figuras: o rei, a rainha, o cavaleiro e o pajem. As demais cartas eram numeradas de um a dez e os naipes já eram quatro, como nos baralhos de hoje, inspirados nos quatro naipes chineses, e não nos dez indianos.
Foi então que, na Itália, surgiu o primeiro baralho fabricado na Europa: o Tarô. Eram (e ainda são) 22 cartas, das quais 21 numeradas em algarismos romanos, que representavam as forças naturais, os vícios e virtudes da humanidade. A 22a carta, il matto ( o "louco" em italiano), representava a liberdade, não tinha número, e acabou dando origem aos coringas de hoje. Entre os anos de 1300 e 1400, juntando as 56 cartas do baralho asiático com as 22 cartas do tarô, os europeus passaram a jogar com um baralho de 78 cartas, muito popular na época, chamado Tarocchi na Itália, Tarau na França e Tarok na Alemanha.
Em seus primeiros tempos, o baralho era um passatempo para poucos: as figuras eram elaboradas e pintadas à mão, o que o tornava extremamente caro. Porém, já no começo do século XV, os xilófragos começaram a baratear-lhe a produção, depois de perceber que seu grande mercado estava na imprensão e venda de baralhos, que se popularizavam muito depressa. Os naipes foram padronizadados em paus, copas, ouros e espadas na França, Itália e Espanha, exceto na Alemanha: lá os naipes eram a folha, o coração, o sino e o pinhão. Surgiram o baralho espanhol e o baralho italiano de 40 cartas, até hoje usado aqui no Brasil para jogar truco ou escopa. Surgiram também os baralhos alemães de 36 ou 32 cartas (do 7 ao ÁS, passando pelas figuras), que é o mesmo baralho usado para o pôquer no Brasil, diferentemente do baralho inteiro usado nos Estados Unidos.
Como não poderia deixar de ser, pelas suas próprias origens místicas, o baralho sempre foi cercado de muita superstição - superstição que leva até hoje, por exemplo, um jogador que perde com cartas novas exigir que se retorne o jogo com as usadas. Outra preocupação dos jogadores sempre foi a segurança; para evitar fraudes ou "roubos", os fabricantes também não ousaram mudar muito as costas das cartas.
Foram sentimentos como esse que talvez tenham impedido uma evolução maior no design dos baralhos. Temendo afastar a desconfiada clientela com inovações em demasia, os fabricantes se mantiveram extremamente conservadores nas suas figuras de reis, damas e valetes. Neste século, porém, houve uma explosão: heróis nacionais, mulheres nuas, tentativas de desenhos modernos, personagens da história e do cinema e até mesmo experiências de reconhecida qualidade artística, passaram a figurar nas cartas. Um baralho da marca Europa, fabricado na Espanha nesta década, recupera, em detalhes, os trajes da época da Renascença e vem acompanhado de um folheto, assinado pelo catedrático da Escola Superior de Belas Artes de Madrid, Professor Teodoro Miciano, explicando as vestimentas ( diferentes para cada uma das doze figuras ) e seus pormenores. Na antiga União Soviética, tentaram trocar valetes, damas e reis por heróis da Revolução de 1917, mas não deu certo.
De qualquer forma o baralho tornou-se um bom negócio até para os governos. Na Espanha e na França, por exemplo, a fabricação já foi monopólio estatal. Os tentáculos do Estado vieram mesmo a influir no próprio desenho das cartas - a Inglaterra, que até 1828 cobrava meia coroa de imposto (muito dinheiro na época) por baralho vendido, exigia que o selo comprovante do imposto pago fosse impresso no ÁS de espadas; isso gerou uma tradição pela qual até hoje, mesmo não existindo mais o imposto, o ás de espadas leva a marca do fabricante ou outro distintivo que o diferencia de todas as outras cartas. Hoje, o baralho é encarado muito mais como um passatempo familiar do que um instrumento de jogatina - do bridge ao rouba-monte, do buraco ao truco.
Se, por um lado, não há consenso a respeito destas datas, por um outro lado não há muita dúvida sobre o passado religioso ou advinhatório das cartas. O antigo baralho indiano, por exemplo, tinha dez naipes, cada um representando uma das dez encarnações da entidade Vishnu. Essa ligação com o sobrenatural também fica clara quando surgem alguns dados históricos. Catherine P. Hargrave, que em 1930 publicou sua História do Jogo de Cartas, diz que no século XIV, os soldados sarracenos introduziram no sul da Itália um jogo de baralho chamado "naib"- que em herbeu quer dizer "feitiçaria"- e que pode também ter sido a origem da palavra "naipe" em português e espanhol.
Religioso ou não, quando o baralho chegou à Europa entre os séculos XIII e XV, o prazer de jogar já existia. As apostas em jogos de dados (feitos em pedra ou osso), eram conhecidas em diversos países. O baralho vinha somar-se aos jogos anteriores, conquistando adeptos, certamente pelo fascínio que possui até hoje, somado ao quase infinito número de combinações matemáticas possíveis encontradas num prático maço de cartas, em tamanho de bolso.
Do Oriente, fosse da China ou da Índia, chegaram na Europa os baralhos numerados e divididos em naipes. Sabe-se que eram 56 cartas com quatro figuras: o rei, a rainha, o cavaleiro e o pajem. As demais cartas eram numeradas de um a dez e os naipes já eram quatro, como nos baralhos de hoje, inspirados nos quatro naipes chineses, e não nos dez indianos.
Foi então que, na Itália, surgiu o primeiro baralho fabricado na Europa: o Tarô. Eram (e ainda são) 22 cartas, das quais 21 numeradas em algarismos romanos, que representavam as forças naturais, os vícios e virtudes da humanidade. A 22a carta, il matto ( o "louco" em italiano), representava a liberdade, não tinha número, e acabou dando origem aos coringas de hoje. Entre os anos de 1300 e 1400, juntando as 56 cartas do baralho asiático com as 22 cartas do tarô, os europeus passaram a jogar com um baralho de 78 cartas, muito popular na época, chamado Tarocchi na Itália, Tarau na França e Tarok na Alemanha.
Em seus primeiros tempos, o baralho era um passatempo para poucos: as figuras eram elaboradas e pintadas à mão, o que o tornava extremamente caro. Porém, já no começo do século XV, os xilófragos começaram a baratear-lhe a produção, depois de perceber que seu grande mercado estava na imprensão e venda de baralhos, que se popularizavam muito depressa. Os naipes foram padronizadados em paus, copas, ouros e espadas na França, Itália e Espanha, exceto na Alemanha: lá os naipes eram a folha, o coração, o sino e o pinhão. Surgiram o baralho espanhol e o baralho italiano de 40 cartas, até hoje usado aqui no Brasil para jogar truco ou escopa. Surgiram também os baralhos alemães de 36 ou 32 cartas (do 7 ao ÁS, passando pelas figuras), que é o mesmo baralho usado para o pôquer no Brasil, diferentemente do baralho inteiro usado nos Estados Unidos.
Como não poderia deixar de ser, pelas suas próprias origens místicas, o baralho sempre foi cercado de muita superstição - superstição que leva até hoje, por exemplo, um jogador que perde com cartas novas exigir que se retorne o jogo com as usadas. Outra preocupação dos jogadores sempre foi a segurança; para evitar fraudes ou "roubos", os fabricantes também não ousaram mudar muito as costas das cartas.
Foram sentimentos como esse que talvez tenham impedido uma evolução maior no design dos baralhos. Temendo afastar a desconfiada clientela com inovações em demasia, os fabricantes se mantiveram extremamente conservadores nas suas figuras de reis, damas e valetes. Neste século, porém, houve uma explosão: heróis nacionais, mulheres nuas, tentativas de desenhos modernos, personagens da história e do cinema e até mesmo experiências de reconhecida qualidade artística, passaram a figurar nas cartas. Um baralho da marca Europa, fabricado na Espanha nesta década, recupera, em detalhes, os trajes da época da Renascença e vem acompanhado de um folheto, assinado pelo catedrático da Escola Superior de Belas Artes de Madrid, Professor Teodoro Miciano, explicando as vestimentas ( diferentes para cada uma das doze figuras ) e seus pormenores. Na antiga União Soviética, tentaram trocar valetes, damas e reis por heróis da Revolução de 1917, mas não deu certo.
De qualquer forma o baralho tornou-se um bom negócio até para os governos. Na Espanha e na França, por exemplo, a fabricação já foi monopólio estatal. Os tentáculos do Estado vieram mesmo a influir no próprio desenho das cartas - a Inglaterra, que até 1828 cobrava meia coroa de imposto (muito dinheiro na época) por baralho vendido, exigia que o selo comprovante do imposto pago fosse impresso no ÁS de espadas; isso gerou uma tradição pela qual até hoje, mesmo não existindo mais o imposto, o ás de espadas leva a marca do fabricante ou outro distintivo que o diferencia de todas as outras cartas. Hoje, o baralho é encarado muito mais como um passatempo familiar do que um instrumento de jogatina - do bridge ao rouba-monte, do buraco ao truco.
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